PROF. BERNADETE
Parnasianismo
https://www.youtube.com/watch?v=jXIujnBiuhw
O parnasianismo nasceu na
França, em 1866, com a publicação ParnasseContemporain (“Parnaso
Contemporâneo”) e teve como prioridades o culto à forma, a “arte pela arte”, a
objetividade temática e o distanciamento de questões de cunho social. Assim
como o realismo, foi um movimento
de oposição ao romantismo, que já estava em
franco declínio.
Contexto histórico
Contemporâneo das
escolas realista e naturalista, o parnasianismo é
um herdeiro
das escolas cientificista, determinista e positivista do último quarto
do século XIX. À época, popularizavam-se as ideias positivistas de Auguste
Comte, que exaltavam o método científico como o único meio de se
chegar ao conhecimento e ao progresso.
A burguesia industrial
consolidava-se no poder, ocasionando o surgimento de um proletariado explorado
e, por consequência, da luta de classes. Temas relacionados a acontecimentos
sociais e históricos, entretanto, não eram abordados pelos autores parnasianos.
O nome do movimento remete ao monte Parnaso, na Grécia Antiga, morada de Apolo, o deus inspirador dos artistas e dos poetas, patrono da beleza ideal. Foi, portanto, uma tendência literária que valorizava e retomava elementos da Antiguidade Clássica.
Características do parnasianismo
·
Rigor formal: descartaram os versos livres do romantismo e substituíram-nos por
métrica e rima regulares, especialmente versos alexandrinos (doze sílabas
métricas) ou decassílabos (dez sílabas métricas);
·
“A arte pela arte”: a produção artística não deve
ser útil, mas pura, alheia e erudita, um culto ao belo, à perfeição, sem se
ocupar dos problemas da realidade;
·
Valorização e enobrecimento
do artista: o poeta é comparado a um artífice da palavra, um ourives, responsável
por lapidar o texto tal como se lapida uma pedra em estado bruto para que se
torne uma joia;
·
Distanciamento da linguagem oral: buscando as formas clássicas
(como o verso alexandrino e a presença de deuses da mitologia greco-romana);
·
Inversão sintática: (como “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / de um povo
heroico um brado retumbante” em lugar de “As margens plácidas do Ipiranga
ouviram um brado retumbante de um povo heroico”);
·
Vocabulário acurado e complexo: palavras pouco
populares, elitização da linguagem, poesia como aristocratização espiritual;
·
Afastamento das questões reais do presente: preferência por
temáticas reflexivas e universais, descrições de objetos e de cenas da
natureza;
·
Impessoalidade: em oposição à subjetividade acentuada do romantismo.
Parnasianismo no Brasil
O Brasil dos anos 1800
foi marcado por intensa
influência da cultura francesa. O abandono do estilo romântico
preconizado pelos parnasianos tencionava equiparar a produção artística
brasileira àquela feita em Paris.
A tendência literária
importada pelos parnasianos vinha acompanhada de outro ideal importante para o
entendimento do Brasil do final do século XIX: o positivismo. Escola filosófica de
Auguste Comte, considerado o pai da Sociologia, preconizava o progresso científico como o principal
horizonte da humanidade, que, por sua vez, também seria regida por leis naturais e positivas,
como as leis da Física.
O positivismo foi muito popular entre os
intelectuais da época e, principalmente, entre os militares que integravam o
movimento republicano. Os dizeres “Ordem e progresso”, que compõem a Bandeira
Nacional, são inspirados em uma citação de Comte: “O amor por princípio, a
ordem por base e o progresso por fim”.
Os poetas parnasianos,
em sua maioria, também eram republicanos. A partir de 1889, o parnasianismo tornou-se um
método de composição “oficial” no Brasil: o Hino
Nacional Brasileiro, o Hino
da Proclamação da República e o Hino
à Bandeira do Brasil são composições parnasianas.
Principais obras e autores
A chamada trindade ou
tríade parnasiana brasileira é composta pelos três autores mais célebres do
movimento: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
·
Olavo Bilac (Rio de Janeiro, 1865-1918)
O mais conhecido dos poetas
parnasianos brasileiros e um dos fundadores da Academia Brasileira de
Letras, Olavo
Brás Martins dos Guimarães Bilac foi também jornalista e
orador ativo na política brasileira. Defensor dos ideais republicanos, participou de
campanhas com alcance nacional, sendo perseguido e preso durante a Revolta
da Armada, que ocorreu entre os anos de 1893 e 1894.
Teve notória estreia
literária com a publicação Poesias, em 1888. Em seus diversos
livros, Bilac contemplou as temáticas do amor – platônico, espiritual,
sensual –, da mitologia
greco-romana e de cunho filosófico, criando atmosferas de reflexão sobre o sentido
da vida. Escreveu também poesias didáticas e patrióticas, além de ser o autor
do Hino à Bandeira do Brasil.
O soneto XIII do
livro Via
Láctea (1888) é um exemplo de sua lírica amorosa e uma de suas obras mais
conhecidas:
Via Láctea
XIII
“Ora (direis) ouvir estrelas!
Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite,
enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
(Via Láctea, 1888)
“A Pátria” é um
exemplo de sua obra voltada ao público infantil, onde se nota a inclinação
nacionalista do autor:
A Pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em
que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
(Poesias Infantis, 1904)
o Publicações de Olavo
Bilac
Livros de poesia
·
Poesias (1888)
·
Via
Láctea (1888)
·
Sarças
de Fogo (1888)
·
Crônicas
e Novelas (1894)
·
O
Caçador de Esmeraldas (1902)
·
As
Viagens (1902)
·
Alma
Inquieta (1902)
·
Poesias
Infantis (1904)
·
Tarde (1919) [póstumo]
Livros de crítica e teoria literária
·
Crítica
e Fantasia (1904)
·
Tratado
de Versificação (1905)
·
Conferências
Literárias (1906)
Outras publicações
·
Ironia
e Piedade (1916)
[crônicas]
· A Defesa Nacional (1917) [discursos]
·
Alberto
de Oliveira (Saquarema, 1857 – Niterói, 1937)
Antônio Mariano
Alberto de Oliveira foi poeta, professor de literatura e diretor de Instrução Pública do
Rio de Janeiro. Em meados de 1880, conheceu o grupo de intelectuais
formado, entre outros nomes, por Olavo Bilac, Raimundo Correa, Aluísio Azevedo e Raul Pompeia, que se reuniam em Niterói, na
casa de Alberto de Oliveira. Publicou seu primeiro livro em 1877, ainda
sob influência da estética romântica. O livro seguinte, de
1884, tem prefácio assinado por Machado de Assis.
Uma de suas composições mais
famosas é “Vaso chinês”, exemplo de soneto parnasiano que toma por
tema a descrição de um objeto que inspira pela perfeição
de sua forma, pelo trabalho artístico de sua feitura:
Vaso chinês
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármorluzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à
desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;
Que arte em pintá-la! a gente
acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
(Sonetos e poemas,
1886)
Em “Vestígios divinos”, pode-se
notar a influência da mitologia greco-romana na
composição, inspirada pelos montes da Serra do Marumbi, localizada no estado do
Paraná, cujo cume mais alto chama-se Olimpo.
Vestígios divinos
(Na Serra de Marumbi)
Houve deuses aqui, se não me
engano;
Novo Olimpo talvez aqui fulgia;
Zeus agastava-se, Afrodite ria,
Juno toda era orgulho e ciúme insano.
Nos arredores, na montanha ou
plano,
Diana caçava, Actéon a perseguia.
Espalhados na bruta serrania,
Inda há uns restos da forja de Vulcano.
Por toda esta extensíssima
campina
Andaram Faunos, Náiades e as Graças,
E em banquete se uniu a grei divina.
Os convivas pagãos ainda hoje os
topas
Mudados em pinheiros, como taças,
No hurra festivo erguendo no ar as copas.
(Poesias, 4ª série,
1928)
o Obras de Alberto de Oliveira
o Canções românticas (1878)
o Meridionais (1884)
o Sonetos e poemas (1885)
o Versos e rimas (1895)
o Poesias, 1ª. Série (1900)
o Poesias, 2ª. Série (1906)
o Poesias, 2 vols. (1912)
o Poesias, 3ª. Série (1913)
o Poesias, 4ª. Série (1928)
o Poesias escolhidas (1933)
o Póstumas (1944)
o Raimundo Correia (Costa do Maranhão,
1860 – Paris, 1911)
Nascido a
bordo de um navio no litoral maranhense, Raimundo da Mota
Azevedo Correia foi poeta, juiz e professor. Formou-se em Direito na
Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, e foi juiz e promotor nos
estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Foi também fundador da Academia Brasileira de Letras.
Sua primeira obra, Primeiros sonhos (1879), ainda evidencia traços da poesia romântica. Recebeu influência da filosofia de Arthur Schopenhauer, de
ressonância pessimista, registrando em seus versos tons mais sombrios, imagens de ruínas, da
moralidade deteriorada. Consolidou-se como autor parnasiano com Sinfonias (1883), e segundo os métodos de
composição dessa escola literária, foi um dos mais perfeitos poetas da língua
portuguesa.
“As pombas” é um de seus sonetos mais conhecidos,
no qual se nota o estilo parnasiano, especialmente pela temática e composição
rigorosa dos versos:
As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida
nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas
soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
(Sinfonias, 1883)
“Desdéns” é um exemplo de sua lírica amorosa,
evidência de como os parnasianos abordam o amor e a mulher de maneira muito
diferente dos poetas românticos:
Desdéns
Realçam no marfim da ventarola
As tuas unhas de coral felinas
Garras com que, a sorrir, tu me assassinas,
Bela e feroz... O sândalo se evola;
O ar cheiroso em redor se
desenrola;
Pulsam os seios, arfam as narinas...
Sobre o espaldar de seda o torso inclinas
Numa indolência mórbida, espanhola...
Como eu sou infeliz! Como é sangrenta
Essa mão impiedosa que me arranca
A vida aos poucos, nesta morte lenta!
Essa mão de fidalga, fina e
branca;
Essa mão, que me atrai e me afugenta,
Que eu afago, que eu beijo, e que me espanca!
(Versos e versões,
1887)
o Obras de Raimundo Correia
·
Primeiros
sonhos (1879)
·
Sinfonias (1883)
·
Versos
e versões (1887)
·
Aleluias (1891)
· Poesias (1898) (1906) (1910) (1916)
EXERCÍCIOS
SOBRE O PARNASIANISMO
1. O
que foi o Parnasianismo no Brasil?
R. Foi um movimento de estilo poético que marcou a elite brasileira
no final do século XIX.
2. Apesar
de o Parnasianismo no Brasil ter sido marcado pela publicação da obra
“Fanfarras” de Teófilo Dias, em 1822. Outros nomes foram importantes para a
força do movimento. Quem foram essas pessoas?
R. Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e Raimundo Correia.
3. Quais
as principais características da poética parnasiana?
R. Objetividade temática como uma negação ao
sentimentalismo romântico, poesia de de meditação filosófica, carregada de
descrições objetivas e impessoais, perfeição formal nas poesias, com forma fixa
dos sonetos, métricas dos versos alexandrinos e decassílabos perfeitos, rima
rica e rara.
4. Cite
algumas obras que se destacaram nesse movimento.
R. Meridionais, Versos e Rimas, Céu, Terra e Mar de
Adalberto de Oliveira.
Poesias, Crônicas e novelas, Crítica e fantasia,
Dicionário de rimas, de Olavo Bilac. Entre outras.
5. Sabendo-se
que o parnasianismo brasileiro foi fortemente influenciado pelo parnasianismo
francês. Explique qual a diferença entre eles.
R. Na França, o parnasianismo valorizava a perfeição
formal, o rigor das regras clássicas na criação dos poemas, descrição
minuciosa, sensualidade e mitologia greco-romana. O parnasianismo brasileiro
não seguiu à risca os acordos propostos pelos franceses, muitos poemas apresentam
subjetividade e preferência por temas voltados a realidade brasileira,
contrariando outra característica do parnasianismo francês, o universalismo.
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