segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

LITERATURA - ENSINO MÉDIO

DIGA SE É ALUNO CADASTRADO DO NEEJA E DEIXE SEU COMENTÁRIO OU SUGESTÕES.

PROF. BERNADETE 

RESUMO DO QUE É LITERATURA – CONCEITO E HISTÓRICO

Os autores, ou seja, aqueles que produzem obras literárias, representam uma realidade a partir do seu ponto de vista, dos seus sentimentos e dos recursos linguísticos que desejam usar. Quando falamos em realidade, não estamos nos referindo a ela de uma forma objetiva, ou seja, o texto literário não tem nenhum compromisso com a veracidade das informações que apresenta, ele é livre para criar a sua própria realidade e dar sentido a ela.

Ainda é muito complicado separar um texto literário de um que não o seja. Nem tudo aquilo que é escrito pode ser considerado uma manifestação da Literatura, no entanto, não existem, formalmente, critérios que façam uma classificação rígida entre o que nós podemos considerar como literário ou não.

No geral, a Literatura usa e abusa da função poética da linguagem, que é aquela que evidencia a forma de uma mensagem, se preocupando tanto com “como dizer” quanto “o que dizer”, e às vezes até mais. Normalmente, o texto literário tem algumas características, dentre as quais podemos destacar:

• Subjetividade: as experiências, a emoção e os pensamentos pessoais do autor são colocados nos textos;

• Plurissignificação: em literatura, a múltipla possibilidade de interpretação não é um problema, muito pelo contrário, é algo que até enriquece a obra. Já em um texto que não seja literário, como uma notícia, por exemplo, isso é impensável;

• Ficcionalidade: os textos não precisam, necessariamente, se comprometer com a verdade e com essa realidade objetiva, que é realmente vivida. Eles podem ter boas doses de ficção, partindo ou não de temas reais;

• Função estética: o artista representa uma determinada situação a partir da sua perspectiva sobre ela.

1.    Textos literários e textos não literários (VER ex. nas explicações abaixo)

A Literatura tem suas origens no Trovadorismo, que aliás, é reconhecido oficialmente como o primeiro período literário da Língua Portuguesa. Ele surgiu durante a Idade Média, no século XII, com a “Cantiga da Garvaia” ou Ribeirinha. Os trovadores compunham as chamadas cantigas, que eram poesias cantadas e acompanhadas por um instrumento musical.

2.    Cantiga da Ribeirinha (VER)

Esses artistas faziam parte da nobreza e suas cantigas costumavam ser reunidas em livros, que eram chamados de Cancioneiros.

Após o Trovadorismo, tivemos os seguintes períodos literários (mais conhecidos como escolas): Classicismo, Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo/Naturalismo, Simbolismo e Modernismo.

Os textos literários são divididos em gêneros, que nada mais são do que categorias diferentes que reúnem obras com determinadas características estruturais. São três grandes gêneros, cada um deles subdividido em subgêneros:

• Lírico: poesia, sátira, ode (3), hino, soneto,acróstico.

• Narrativo: romance, fábula, novela, conto, crônica, epopeia.

• Dramático: farsa(4), tragédia e elegia.

LITERATURA NO BRASIL

No Brasil, a Literatura é um pouco tardia e durante muito tempo era extremamente dependente do que vinha de Portugal e de outros países europeus.

A Literatura Brasileira teve início de uma forma um pouco diferente se comparada com outros países, tanto é que a nossa primeira escola literária foi o Quinhentismo, que começou com os relatos dos viajantes que vinham até o nosso território durante o século XVI, na fase do descobrimento e do início da colonização.

O texto que inaugurou o Quinhentismo foi a “Carta de Descobrimento”,(5)escrita por Pero Vaz de Caminha, que tinha como objetivo informar a Coroa Portuguesa das principais características da terra que tinha acabado de ser descoberta. O Padre José de Anchieta, escrevendo sermões, poemas e hinos, se destacou nesse período.

Depois, no século XVII, tivemos o Barroco, que representava claramente a sensação de dualidade entre bem e mal, matéria e espírito, céu e inferno, dos seres humanos, pois foi um momento em que a Igreja Católica começava a perder poder.

Já o Arcadismo, no século XVIII, vai valorizar a objetividade, o equilíbrio e os cenários bucólicos. O Romantismo deu origem à Literatura realmente brasileira, porque foi inaugurado após a independência, em 1822. Foi nesse momento em que essa arte começou a valorizar e ser produzida para o país, portanto, essa escola é um divisor de águas.

6. (Poema do Romantismo- VER)

Depois do Romantismo, o Brasil viveu o Realismo/Naturalismo, o Simbolismo e o Pré-modernismo, que não é uma escola literária, mas sim um período de transição entre tudo o que havia sido produzido até então e o Modernismo, iniciado em 1922.

A Literatura Moderna rompeu com todo o passado, buscando trazer novidades e valorizar ainda mais a cultura nacional.7. (poemas – ver)

 EXPLICAÇÕES:

1.Textos literários e textos não literários

(Texto 1) Descuidar do lixo é sujeira

Diariamente, duas horas antes da chegada do caminhão da prefeitura, a gerência de uma das filiais do McDonald’s deposita na calçada dezenas de sacos plásticos recheados de papelão, isopor, restos de sanduíches. Isso acaba propiciando um lamentável banquete de mendigos. Dezenas deles vão ali revirar o material e acabam deixando os restos espalhados pelo calçadão. (Veja São Paulo, 23-29/12/92)

O primeiro texto – "Descuidar do lixo é sujeira" – se propõe a dar uma informação sobre o lixo despejado nas calçadas, bem como o que acontece com ele antes de o caminhão do lixo passar para recolhê-lo. É um texto informativo e, portanto, não literário.

O texto não literário apresenta linguagem objetiva, clara, concisa, e pretende informar o leitor de determinado assunto. Para isso, quanto mais simples for o vocabulário e mais objetiva for a informação, mais fácil se dará a compreensão do conteúdo: foco do texto não literário.

São exemplos de textos não literários: as notícias, os artigos jornalísticos, os textos didáticos, os verbetes de dicionários e enciclopédias, as propagandas publicitárias, os textos científicos, as receitas culinárias, os manuais, etc.

(Texto 2) O bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

(Manuel Bandeira. Em Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: J. Olympio/MEC, 1971, p.145)

O segundo texto – “O bicho” – é um poema. Sabemos disso principalmente por sua forma. O poema é construído em versos e estrofes e apresenta uma linguagem carregada de significados, ao que chamamos de plurissignificação. Cada palavra pode apresentar um sentido diferente daquele que lhe é comum.

No texto literário, a expressividade é o mais importante. O conteúdo, nesse caso, fica em segundo plano. O vocabulário bem selecionado transmite sensibilidade ao leitor. O texto é rico de simbologia e de beleza artística.

Podemos citar como exemplos de textos literários o conto, o poema, o romance, peças de teatro, novelas e crônicas.

2.   Cantiga da Ribeirinha

Paio Soares de Taveiroz

 

No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
caja moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, desaquelha
me foi a mí mui mal di'ai!,
E vós, filha de donPaai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vós houve nen hei
valíadũacorrea.

 

No mundo ninguém se assemelha a mim
Enquanto a vida continuar como vai,
Porque morro por vós e - ai! -
Minha senhora alva e de pele rosadas,
Quereis que vos retrate
Quando eu vos vi sem manto.
Maldito seja o dia em que me levantei
E então não vos vi feia!

E minha senhora, desde aquele dia, ai!
Tudo me ocorreu muito mal!
E a vós, filha de Dom Paio
Moniz, parece-vos bem
Que me presenteeis com uma guarvaia,
Pois eu, minha senhora, como presente,
Nunca de vós recebera algo,
Mesmo que de ínfimo valor.


Obs.: a guarvaia era um manto luxuoso, provavelmente de cor vermelha, usado pela nobreza.

 3.O que é Ode: 

Ode é uma composição poética do gênero lírico que se divide em estrofes simétricas. O termo tem origem no grego “odés” que significa “canto”. Na Grécia Antiga, "ode" era um poema sobre algo sublime composto para ser cantado individualmente ou em coro, e com acompanhamento musical.

Um exemplo de ode são os hinos nacionais dos países, em que os autores fazem uma homenagem à Pátria e aos seus símbolos e são acompanhados por instrumentos musicais.

O poema “Ode triunfal” do poeta português Fernando Pessoa, através do seu heterônimo Álvaro de Campos, representa um canto de louvor e exaltação à modernidade. Segue abaixo um trecho desse poema:

“À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!”

 4.FARSA

Farsa: peça teatral com características caricaturais e ridículas. Tem como objetivo criticar a sociedade e os costumes. Um grande autor a ser citado é Gil Vicente que ficou conhecido pelas suas inúmeras farsas, dentre elas, a Farsa de Inês Pereiraa Farsa do velho da horta.

Leia um trecho do final da Farsa de Inês Pereira, em que Pero Marques carrega Inês Pereira nas costas.

Inês: Sabeis vós o que eu queria?
Pero: Que quereis, minha mulher?
Inês: Que houvésseis por prazer
de irmos lá em romaria.
Pedro: Seja logo, sem deter!
Inês: Este caminho é comprido:
contai uma história, marido.
Pedro: Por certo que me praz, mulher.
Inês: Passemos primeiro o rio;
descalçai-vos.
Pedro: E pois como?
Inês: E levar me-eis ao ombro,
não me faça mal o frio.

Põe-se Inês Pereira às costas do marido, e diz:
Inês: Marido, assi me levade.
Pedro: Ides à vossa vontade?
Inês: Como estar no Paraíso!
Pero: Muito folgo eu com isso.
Inês: Esperade ora, esperade!
Olhai que lousas aquelas,
Pera poer as talhas nela!
Pero: Quereis que as leve?
Inês: Si. Uma aqui e outra aqui.
Oh, como folgo com elas!
Cantemos, marido, quereis?
Pedro: Eu não saberei entoar…
Inês: Pois hei só de cantar
E vós me respondereis
Cada vez que eu acabar:
“Pois assi se fazem as cousas”.

Canta Inês Pereira:
Inês: “Marido cuco me levades
E mais duas lousas.”
Pero: “Pois assi se fazem as cousas.”
Inês: “Bem sabedes vós, marido,
Quanto vos amo.
Sempre fostes percebido
Pera gamo.}
Carregado ides, noss’amo,
Com duas lousas.”
Pero: “Pois assi se fazem as cousas.”
Inês: “Bem sabedes vós, marido,
Quanto vos amo.
Sempre fostes percebido
Pera cervo.
Agora vos tomou o demo?
Com duas lousas.”
Pero: “Pois assi se fazem as cousas.”
E assi se vão, e se acaba o dito auto.
LAUS DEOS
(Deus seja louvado.)

VICENTE, Gil. Farsa de Inês Pereira. São Paulo: Martin Claret, 2001. 

5. Trechos da Carta do Descobrimento do Brasil

"Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma."

"Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos."

"Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali.

Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.

Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados.

Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora.

Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais.

Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora.

Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo."

6. Poema do Romantismo

O sofrimento, a dor existencial, a angústia e o amor sensual e idealizado foram os principais temas da literatura produzida durante a segunda fase do Romantismo. A publicação do livro Poesias, de Álvares de Azevedo, em 1853, foi considerada o marco inicial da poesia de inspiração gótica. Outros escritores também fizeram do ultrarromantismo seu projeto literário, entre eles Fagundes Varela, Junqueira Freire e Casimiro de Abreu, fortemente inspirados pelo inglês Lord Byron.

Visões da noite

Passai, tristes fantasmas! O que é feito
Das mulheres que amei, gentis e puras?
Umas devoram negras amarguras,
Repousam outras em marmóreo leito!

Outras no encalço de fatal proveito
Buscam à noite as saturnais escuras,
Onde, empenhando as murchas formosuras,
Ao demônio do ouro rendem preito!

Todas sem mais amor! sem mais paixões!
Mais uma fibra trêmula e sentida!
Mais um leve calor nos corações!

Pálidas sombras de ilusão perdida,
Minh’alma está deserta de emoções,
Passai, passai, não me poupeis a vida!

Fagundes Varela

7.No Meio do Caminho (1928)

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Meio absurdo e difícil de compreender, No Meio do Caminho é um dos poemas mais famosos e marcantes de Carlos Drummond de Andrade.

A composição foi, sem dúvida, uma grande provocação modernista que visava provar que a poesia poderia versar sobre qualquer assunto, até uma simples pedra.

O poema, que tem por base a repetição e o verso livre, é um produto da experimentação da época e veio quebrar barreiras na forma como pensamos a poesia.

7. Pronominais (1925)

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.

Como referimos no começo, uma das características do modernismo brasileiro foi a presença de uma linguagem simples, próxima da oralidade. Estas composições prestavam atenção às falas locais, registrando o vocabulário tipicamente brasileiro.

Em Pronominais, Oswald de Andrade chama atenção para a discordância que havia entre as formulações ensinadas na escola e os usos reais da linguagem, no cotidiano nacional. Assim, há a recusa dos modelos que ainda vigoravam e a valorização daquilo que é popular.

7. Motivo (1963)

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles foi uma poeta, pintora e educadora que entrou para a história do Modernismo brasileiro, pertencendo à segunda fase do movimento.

Em Motivo, a escritora reflete acerca da sua relação com o trabalho poético. Fica claro que o sujeito lírico é poeta porque isso faz parte da sua natureza.

Confuso acerca das suas emoções, vive prestando atenção nos detalhes e nas coisas efémeras. O poema parece ser a sua forma de lidar com o mundo e aquilo que deixará no final.

Um comentário:

  1. Porque o texto literário não tem nenhum comprometimento com a veracidade das informações que representa ?

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