quarta-feira, 14 de outubro de 2020

LITERATURA - ENSINO MÉDIO

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PROF. BERNADETE

A literatura sul-rio-grandense


Achamos que a literatura é uma forma de chegar à cultura de um povo, porque nelas são recolhidas todas as particularidades contextuais de um determinado momento. Vamos apresentar apenas alguns dos principais expoentes da literatura do sul do Rio Grande. Será um tema que se nutrirá lentamente, na medida em que saibamos mais sobre esta área.

 

O estado do Rio Grande do Sul conta com uma Academia das Letras, e o maior prêmio dado à literatura são os prêmios açorianos.

 

A literatura sul-rio-grandense inicia com a poetisa Delfina Benigna da Cunha, por volta de 1840. Em 1843, é publicado o seu 1º livro de poemas: “Poesias Oferecidas às Senhoras Rio-Grandenses”, com 160 poemas.

 

O segundo acontecimento importante na história da literatura sul-rio-grandense foi a fundação da Sociedade Partenon Literário, na cidade de Porto Alegre, que congregou importantes nomes da época no campo das letras e da cultura.

 

No final do século XIX e início do século XX, surgiram os poetas simbolistas, destacando-se: Eduardo Guimaraens, que retratou a angústia do entardecer de outono e dos primeiros frios do inverno nos pagos do Rio Grande do Sul. 

Nesse mesmo período, manifestou-se o primeiro regionalista gaúcho, que foi também pré-modernista, João Simões Lopes Neto.

 

O Modernismo, no Rio Grande do Sul, projetou-se a partir dos anos 30, com grandes nomes como Érico Verissimo, Cyro Martins e Dyonélio Machado. Com Érico Verissimo e Cyro Martins, um autor praticamente completa a obra do outro, uma vez que apresentam as duas visões do homem da estância.



Nesse período, dois gêneros literários se sobressaíram no Rio Grande do Sul: a prosa, eminentemente regionalista, e a poesia, que foi enriquecida com Mário Quintana, grande poeta lírico que, além de associar a vida real ao mundo onírico, uniu o quotidiano e o mistério através de um traço de humor natural e espontâneo, do homem comum.

Mario Quintana, poeta pertencente à segunda geração do modernismo, é um dos mais importantes poetas brasileiros. Seus poemas, expressos em uma linguagem simples, mas extremamente poética e reveladora dos sentimentos humanos, apresentam uma dinamicidade de aspectos, o que torna difícil categorizar o autor dentro de uma única característica.

Em 1940, seu primeiro livro de poesia, intitulado A Rua dos Cataventos, que contém sonetos de influência parnasiana, foi publicado. Sua segunda obra de poemas foi o livro Canções, de 1946, em que há poemas que expressam uma maior liberdade formal do que sua primeira obra, tendência que permaneceu e marcou sua produção poética.

Em 1953, Mario Quintana passou a trabalhar no jornal Correio do Povo, sendo colunista do caderno de cultura até 1977. Quando o poeta fez aniversário de 60 anos, foi publicada sua Antologia poética, com a reunião de 60 poemas inéditos. Paralela à sua carreira como poeta e jornalista, Quintana dedicou-se muito à tradução, tendo traduzido mais de 130 obras, entre elas o famoso romance Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, e Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf.

O hotel em que Mario Quintana viveu, em Porto Alegre, foi transformado em Casa de Cultura Mario Quintana. [1]

Em 1980, recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL), pelo conjunto de sua obra. Apesar desse reconhecimento da ABL, o poeta, pertencente à segunda geração do modernismo brasileiro, nunca conseguiu ser eleito para ocupar uma cadeira na academia, mesmo que tivesse tentado isso por três vezes. Ao ser convidado a candidatar-se pela quarta vez, e mesmo com a promessa de unanimidade em torno de seu nome, Mario Quintana recusou.

De vida muito simples, o escritor viveu entre 1968 e 1980 em um quarto de hotel, local hoje transformado em um centro de cultura que leva seu nome. O poeta faleceu em Porto Alegre, em 5 de maio de 1994.


Augusto Meyer introduziu uma feição regionalista na poesia, e Raul Bopp levou ao extremo o projeto indianista do romântico Gonçalves Dias, manifestando o mítico através de lendas orais amazônicas.


Na poesia contemporânea deste Estado, destacam-se Luiz de Miranda que transpassa grandiloquência, linguagem ornamental, escolha vocabular singular, capacidade inigualável e interesse diversificado pelos assuntos, nos quais demonstra o seu compromisso com a sociedade.

 

Carlos Nejar, poeta não do verso, mas da poesia, embora resgate a gênese da condição humana na contemporaneidade, não atenta para o transcendental, mas penetra na alma. 



Na prosa, Moacyr Scliar (cronista, romancista, novelista) representante do realismo mágico, que focou sua obra na temática judaica, em que o humor e a ironia aparecem lado a lado.


Caio Fernando Abreu (romancista, contista e cronista) cuja temática reflete com muita verdade o mundo atual e seus problemas, onde desfilam personagens marginalizados na sociedade gaúcha e brasileira, indivíduos oprimidos e solitários que buscam um sentido para viver.  


Josué Guimarães (romancista e contista), escritor de enorme dimensão artística, pela construção de seus personagens, emoção da trama e a dureza dos tempos que, como poucos, soube retratar com emocionante realismo.

 

Lya Luft (romancista), a qual mergulha no universo psicológico de suas personagens, fazendo emergir as angústias de mulheres machucadas, feridas e reprimidas, fugindo de temas históricos ou sociais para se ater ao intimismo.


Luis Fernando Verissimo (cronista, cartunista e romancista) o qual transpassa com singularidade, em suas obras, uma crítica bem humorada de nossa sociedade, dividindo seu tempo e suas palavras entre a literatura, a música e o futebol.

Relógio

( Mário Quintana)

O mais feroz dos animais domésticos

é o relógio de parede:

conheço um que já devorou

três gerações da minha família.

(Caderno H, 1973)


1.    Considere as afirmações abaixo.

I.             Os Ratos, de Dionélio Machado, é a narrativa, com forte análise psicológica, da trajetória angustiada de Naziazeno na busca desesperada do dinheiro para pagar suas dívidas, revelando o cotidiano mediocrizante da classe média brasileira.

II.            O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo, é uma narrativa histórica que apresenta a formação social e política do Rio Grande do Sul, através das sucessivas gerações da família Terra Cambará.

III.          Através de suas narrativas, Graciliano Ramos revela a realidade do homem nordestino – o sertanejo, em conflito com a sociedade, na busca da sobrevivência – desenvolvendo uma linguagem retórica, carregada de expressões regionalistas, o que confere ao texto um caráter tradicional.

Quais estão corretas?

a.    Apenas I

b.    Apenas II

c.    apenas I e II

d.    Apenas II e III

e.    I, II e III.

 

2.    POEMA: PASSARINHO - MÁRIO QUINTANA

        Sempre me pareceu que um poema era algo assim como um passarinho engaiolado. E que, para apanhá-lo vivo, era preciso um meticuloso cuidado que nem todos têm. Poema não se pega a tiro. Nem a laço. Nem a grito. Não, o grito é o que mais o mata. É preciso esperá-lo com paciência e silenciosamente como um gato.

        Ora, pensava eu tudo isso e o céu também, quando topo com uns versos de Raymond Queneu, que confirmam muito da minha cinegética transcendental. Eis por que aqui os traduzo, ou os adapto, e os adoto, sem data venia:

        Meu Deus, que vontade me deu de escrever um poeminho...

        Olha, agora mesmo vai passando um!

        Pstpstpst

        Vem para cá para que eu te enfie

        Na fieira de meus outros poemas

        Vem cá para que eu te entube

        Nos comprimidos de minhas obras completas.

        Vem cá para que eu te empoete

        Para que eu te enrime

        Para que eu te enritme

        Para que eu te enlire

        Para que eu te empégase

        Para que eu te enverse

        Para que eu te emprose

        Vem cá...

        Vaca!

        Escafedeu-se.

                           Mario Quintana. “Passarinho”. In: A vaca e o hipogrifo. Porto Alegre, Garatuja, 1977. p. 108-9.

 

Entendendo o poema:

 

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Cinegética: Arte de caçar.

·        Data vênia: Expressão latina que significa “com a devida vênia” (licença, permissão). 

·        Empégase: Neologismo baseado em Pégaso, cavalo alado da mitologia grega.

·        Escafeder-se: Fugir às pressas.

·        Transcendental: Que transcende; muito elevado; superior, metafísico.

02 – Além da sensibilidade e da criatividade, que outra virtude o poeta julga essencial para escrever um poema?

      A paciência.

03 – Através de que expressão o autor sugere que o poema é uma atividade que ultrapassa a realidade puramente material?

      Através da expressão “cinegética transcendental”.

04 – Por que o poeta Queneu se aborrece e ofende o poema, chamando-o de vaca?

      Porque o poema estava “na ponta da língua”.

05 – Copie em seu caderno os neologismos que o poeta cria em seu poema e explique os seus significados.

      Empoeta / enritme / enlire / empégase / enverne / emprose.


Texto: Mulher de quarenta

                                                                                                  Lya Luf

     Houve um tempo em que a mulher interessante era a de 30 anos. Naquele instante especial, logo antes – para aquela época – de começar a derrocada, de ela se transformar em uma matrona chata.

    A mulher de 40 anos emergiu há poucas décadas por todo o mundo ocidental. Criados os filhos, consolidado – ou acabado – o casamento, permitiam-se voos mais altos, ou revoadas fora do ninho doméstico. Surgiram assim artistas plásticas, escritoras, amantes. Ou apenas mulheres que se descobriam capazes de pensar, trabalhar, viajar. Questionar-se, questionar vida e valores.

        Algumas num tom lamurioso, outras num tom ressentido, outras, ainda alegres ao abrir janelas de possibilidades. Muitas, ainda, não mudando grande coisa, a mesma casa, o mesmo companheiro, os mesmos filhos, as mesmas amigas. Mas, dentro de si, um novo olhar sobre tudo isso e o mundo lá fora. Às vezes até um olhar mais amoroso. Amor com mais alegria: o que existe melhor que isso?

        A mulher de 40 anos apenas começa a viver. Apenas começa a acumular alguma bagagem de vida; é mais capaz de autoconhecimento, de contemplação das coisas e, simultaneamente, de mais abertura para fora. Olhar o outro sem a toda hora testar: estou linda, estou desejável, estou dentro dos padrões, sou gostosa, pareço inteligente?

        Abrir as asas exige, para ser bom, certa serenidade, um vago equilíbrio, ou cedo as asas vão se derreter ao sol, e a gente despenca, quebrando a cara como não imaginava. Exige certa esperteza boa. A mulher de 40 anos, a que se preza, é uma bruxa divertida, que voa na sua vassoura turbinada, feliz com a visão que tem quando, lá no alto, gira sobre os telhados e sobre as cabeças.

                                                                                                                                        Revista Veja, 7 de novembro de 2007.

Entendendo o texto:

 

01 – Ultrapassa o texto a informação segundo a qual:

[A] O ápice (pico) da vida da mulher dava-se até os 30 anos.

[B] A partir dos trinta anos a mulher tornava-se aborrecida.

[C] Houve uma mudança revolucionária na vida da mulher.

[D] Recentemente as mulheres descobriram-se capazes de pensar.

[E] A mulher de hoje sequer questiona os valores que conhece.

 

02 – A análise feita por Lya Luft refere-se à mulher:

[A] De todo o planeta.                               

[B] Da cultura ocidental

[C] Da cultura helenística.  

[D] Dos países em desenvolvimento

[E] Da cultura nórdica.

 

03 – Há no texto uma relação de intertextualidade com a história de:

[A] As feministas.                            [D] Os políticos.

[B] Os modernistas.                        [E] Os carnavalescos.

[C] Joana D’Arc.

 

04 – A mulher de 40 anos hoje se destaca das mulheres de gerações anteriores pelo (a):

[A] Insegurança.                             [D] Autoconhecimento.

[B] Fugacidade.                              [E] Autodestruição

[C] Permissividade.

 

05 – São estas as características da mulher hoje, aos 40 anos, EXCETO a capacidade de:

[A] Desistir.   

[B] Observar.  

[C] Renovar-se.   

[D] Amar.     

[E] Divertir.


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