segunda-feira, 8 de junho de 2020

LITERATURA - ENSINO MÉDIO

PROF. BERNADETE

BARROCO
Barroco é o nome de um estilo de época, que surgiu no século XVII, na Itália, e caracterizado por forte influência religiosa, devido ao contexto histórico marcado pela Reforma Protestante e pela Contrarreforma. No entanto, ao lado de tanta religiosidade, havia também, na época, um forte apelo aos prazeres sensoriais. Desse modo, o estilo configura-se, basicamente, na aproximação dos opostos.
Portanto, são características presentes em obras de Gregório de Matos e Pe. António Vieira, os principais autores do Barroco Brasileiro: culto ao contraste, fusionismo, pessimismo, feísmo, cultismo, conceptismo, além do uso de antítese, paradoxo, hipérbole, hipérbato e sinestesia.
Contexto histórico do Barroco

 Devido ao conflito entre católicos e protestantes, o cristianismo ganhou força no século XVI.

Dois fatos históricos, no século XVI, foram de grande influência nas obras dos autores barrocos: a Reforma Protestante e a Contrarreforma. Essa última ocorreu como uma reação diante da perda de fiéis devido ao protestantismo (luteranismo e calvinismo).(09)
→ Reforma Protestante
  • O padre alemão Martinho Lutero (1483-1546) denunciou a venda do perdão como prática corrupta da Igreja Católica.
  • Lutero defendia que a salvação só é conseguida por meio de uma vida marcada pela religiosidade, pelo arrependimento dos pecados e pela fé em Deus.
  • Ao entenderem que não precisavam pagar, com doações e penitências, pela absolvição, muitos fiéis abandonaram a Igreja para seguir o luteranismo.
  • João Calvino (1509-1564) defendia a ideia de que o lucro obtido pelo trabalho é uma dádiva divina, o que aumentou a debandada de fiéis.
  • Assim, parte da burguesia aderiu ao protestantismo.
→ Contrarreforma Católica
  • No Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja definiu ações para combater a Reforma Protestante.
→ Medidas importantes:
  • Ressurgimento do Tribunal do Santo Ofício (Santa Inquisição);
  • Criação do Índice dos livros proibidos — Index librorumprohibitorum;
  • Fundação da Companhia de Jesus pelo padre Inácio de Loyola (1491-1556).
Assim, a influência religiosa foi marcante na formação dos autores barrocos. Porém, em oposição (ou como consequência) a essa religiosidade, havia também um forte apelo aos prazeres sensoriais, um desejo de se entregar à mundanidade. Portanto, essa época ficou marcada pela oposição e pelo conflito.
Características do Barroco
Barroco é um estilo de época marcado pela oposição e pelo conflito, o que acaba revelando uma forte angústia existencial. Dessa forma, as obras literárias dessa época apresentam visões opostas (aproximação de opostos), tais como:(08)
  • Antropocentrismo versus teocentrismo
  • Sagrado versus profano
  • Luz versus sombra
  • Paganismo versus cristianismo
  • Racional versus irracional
  • Material versus espiritual
  • Fé versus razão
  • Carne versus espírito
  • Pecado versus perdão
  • Juventude versus velhice
  • Céu versus terra
  • Erotismo versus espiritualidade

Além do culto ao contraste, o estilo possui também estas características:(04)
  • Fusionismo: fusão entre a visão medieval e a renascentista;
  • Antítese e paradoxo: refletem uma época de contrastes;
  • Pessimismo: a felicidade, impossível na Terra, só se realizaria no plano celestial;
  • Feísmo: fascinação pela miséria humana, crueldade, dor, podridão e morte;
  • Rebuscamento: ornamentação excessiva da linguagem, atrelada a um apelo visual;
  • Hipérbole: exagero;
  • Sinestesia: apelo sensorial;
  • Cultismo ou gongorismo: jogo de palavras (sinônimos, antônimos, homônimos, trocadilhos, figuras de linguagem, hipérbatos);
  • Conceptismo ou quevedismo: jogo de ideias (comparações e argumentação engenhosa);
  • Morbidez;
  • Sentimento de culpa;
  • Carpe diemaproveitar o momento;
  • Emprego da medida nova: versos decassílabos;
  • Principais temáticas: fragilidade humana, fugacidade do tempo, crítica à vaidade, contradições do amor.
É preciso ressaltar que a presença de luz e sombra, nos textos barrocos, normalmente, está associada à juventude (luz) e à velhice (sombra). Nessa perspectiva, o poeta barroco sempre lembra aos leitores o quanto a juventude é fugaz e o quão rápido chega a velhice e, consequentemente, a morte. Há, por isso, uma supervalorização da juventude e dos prazeres que essa fase da vida pode oferecer.
Nessa mesma linha de pensamento, a natureza, quando retratada, serve para lembrar que a beleza – por exemplo, a de uma rosa – é fugaz, assim como a juventude. Além disso, imagens como a da aurora (transição entre a noite e o dia) e a do crepúsculo (transição entre o dia e a noite) simbolizam o dualismo típico do estilo barroco.

Barroco na Europa
O Barroco surgiu na Itália e espalhou-se pela Europa e América. No entanto, os maiores nomes da literatura barroca europeia são os espanhóis Luis de Góngora (1561-1627) e Francisco de Quevedo (1580-1645). Já o Barroco português (1580-1756) contou com
  • Pe. António Vieira (1608-1697): Os sermões (1679);

No Brasil, o Barroco (1601-1768) foi inaugurado pelo livro Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira (1561-1618). No entanto, os principais autores desse estilo no país são Gregório de Matos (1636-1696) e Pe. António Vieira (1608-1697).
  • Pe. António Vieira
Pe. António Vieira é conhecido pelos seus sermões conceptistas, com argumentação engenhosa. Seus textos enaltecem a fé cristã e a monarquia portuguesa. Porém, foi perseguido pela Inquisição por defender os cristãos-novos (judeus convertidos ao catolicismo). Sua principal obra é Os sermões, de 1679.
A seguir, vamos ler a primeira parte do Sermão do Mandato de 1643. Nesse sermão, Vieira defende que Deus está doente de amor:
“Quem entrar hoje nesta casa — todo-poderoso e todo amoroso Senhor — quem entrar hoje nesta casa — que é o refúgio último da pobreza e o remédio universal das enfermidades — quem entrar, digo, a visitar-vos nela — como faz todo este concurso da piedade cristã — com muito fundamento pode duvidar se viestes aqui por pródigo, se por enfermo. Destes o céu, destes a terra, destes-vos a vós mesmo, e quem tão prodigamente despendeu quanto era e quanto tinha, não é muito que viesse a parar em um hospital. Quase persuadido estava eu a este pensamento, mas no juízo dos males sempre conjecturou melhor quem presumiu os maiores. Diz o vosso evangelista, Senhor, que a enfermidade vos trouxe a este lugar, e não a prodigalidade. Enfermo diz que estais, e tão enfermo que a vossa mesma ciência vos promete poucas horas de vida, e que por momentos se vem chegando a última: Sciens Jesus quiavenit hora ejus (Jo. 13, 1). Qual seja esta enfermidade, também o declara o Evangelista. Diz que é de amor, e de amor nosso, e de amor incurável. De amor: cum dilexisset; de amor nosso: suosquierant in mundo; e de amor incurável e sem remédio: in finem dilexiteos. Este é, enfermo Senhor, e saúde de nossas almas, este é o mal ou o bem de que adoecestes, e o que vos há de tirar a vida. E porque quisera mostrar aos que me ouvem que, devendo-vos tudo pela morte, vos devem ainda mais pela enfermidade, só falarei dela. Acomodando-me pois ao dia, ao lugar e ao Evangelho, sobre as palavras que tomei dele, tratarei quatro coisas, e uma só. Os remédios do amor e o amor sem remédio. Este será, amante divino, com licença de vosso coração, o argumento do meu discurso. Ainda não sabemos de certo se o vosso amor se distingue da vossa graça. Se se não distinguem, peço-vos o vosso amor, sem o qual se não pode falar dele, e se são coisas distintas, por amor do mesmo amor vos peço a vossa graça. Ave Maria.”
Nesse trecho, podemos perceber as seguintes marcas barrocas:
  • Conceptismo: Vieira inicia a defesa de uma ideia;
  • Pessimismo: “[...], mas no juízo dos males sempre conjecturou melhor quem presumiu os maiores”;
  • Antíteses: “[...] enfermo Senhor, e saúde de nossas almas, este é o mal ou o bem de que adoecestes, e o que vos há de tirar a vida. E porque quisera mostrar aos que me ouvem que, devendo-vos tudo pela morte, [...]”; “Os remédios do amor e o amor sem remédio”; e “Ainda não sabemos de certo se o vosso amor se distingue da vossa graça. Se se não distinguem, peço-vos o vosso amor, […]”;
  • Paradoxo: “[...], tratarei quatro coisas, e uma só”.
No decorrer do sermão, os leitores entendem que quatro coisas são essas — os remédios do amor. São eles: o tempo, a ausência, a ingratidão e o melhorar de objeto. No entanto, esses remédios provocam o efeito contrário em Deus, pois aumentam ainda mais o seu amor.
  • Gregório de Matos
Gregório de Matos compôs suas poesias explorando as mais diversas temáticas, desde o amor à crítica social.
Gregório de Matos, conhecido também como Boca do Inferno, é o representante máximo da poesia barroca brasileira. Sua poesia é assim dividida:(03)
  • Lírica ou filosófica: temática amorosa, oposição entre espírito e matéria, fugacidade do tempo;
  • Sacra: temática religiosa, fragilidade humana e medo da condenação divina;
  • Satírica: crítica social, econômica e política.
No soneto Inconstância dos bens do mundo, o eu lírico, a partir de antíteses, expõe sua percepção de que a luz do Sol não dura mais do que um dia; portanto, a noite sempre chega. Além disso, a beleza acaba, e a alegria transforma-se em tristeza.
Ele demonstra a sua angústia diante da inconstância das coisas do mundo e conclui que, se nem a luz é firme, duradoura, a beleza também não pode ser. Essa constatação explica o paradoxo “E na alegria sinta-se tristeza”, ou seja, a alegria da juventude e a tristeza de saber que ela é passageira. Por fim, o eu lírico conclui que a inconstância é suprema:

Inconstância dos bens do mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?

Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,

Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.


Já no soneto A Cristo S. N. crucificado, um exemplo de sua poesia sacra, o eu lírico dialoga com Jesus. Diz, paradoxalmente, que se opõe à lei de Deus, mas que vai morrer nessa lei, isto é, vive uma vida de pecado, mas, no final, na hora da morte, será salvo pelo arrependimento.
Nessa hora, segundo o eu lírico, Deus será brando, manso, e perdoará os seus pecados. Ele diz que o amor de Deus é muito grande e o pecado dele (do eu lírico) também; no entanto, argumenta, o pecado pode acabar, mas o amor de Deus é infinito. Por isso, ele tem certeza de que, por mais que peque, no final, pode salvar-se:

A Cristo N. S. crucificado
Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro:


Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai, manso Cordeiro.



Mui grande é o vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor que é infinito.



Esta razão me obriga a confiar,
Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.

E, por fim, o poema A uma que lhe chamou “pica-flor”, feito em resposta a uma freira que zombou do poeta devido à sua magreza e lhe chamou de “pica-flor”, ou seja, beija-flor. Assim, nesse texto satírico, de cunho erótico, o eu lírico ataca aquela que o ofendeu. Para o entendimento do poema, é preciso associar o verbo “pica” ao órgão sexual masculino e o substantivo “flor” ao órgão sexual feminino. A partir daí, há a sugestão de uma relação sexual entre o eu lírico e a freira a quem é direcionado o poema:

Se Pica-flor me chamais,

Pica-flor aceito ser,
mas resta agora saber
se no nome, que me dais,
meteis a flor, que guardais
no passarinho melhor!
Se me dais este favor,
sendo só de mim o Pica,
e o mais vosso, claro fica,
que fico então Pica-flor.


No Brasil, o barroco ganhou impulso entre 1720 e 1750, momento em que várias academias literárias foram fundadas por todo o país.

A obra Prosopopeia, de Bento Teixeira, marca o início do barroco no Brasil. (02)
O centro de riqueza da época era Minas Gerais, e foi lá que a produção artística, ligada à igreja, concentrou-se. O arquiteto, entalhador e escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foi o grande representante dessa tendência nas artes plásticas, o estilo rococó predominava em suas esculturas de materiais típicos nacionais, como a madeira e pedra-sabão.(07)


Os escritores que mais se destacaram foram:

Na poesia:
- Gregório de Matos
- Bento Teixeira
Na prosa:
- Pe. Antônio Vieira


EXERCÍCIOS:
01. Entre os nomes e características apresentados a seguir, destaque os que podem ser associados ao Barroco:
1. Cultismo e Conceptismo.
2. Oposição entre mundo material e mundo espiritual.
3. Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos.
4. Preocupação com a racionalidade.
5. Gregório de Matos e Basílio da Gama.
6. Gosto por raciocínios complexos, desenvolvidos em parábolas e narrativas bíblicas.

a) 1 – 2 – 3 – 6
b) 1 – 2 – 3 – 5
c) 1 – 3 – 4 – 5
d) 2 – 3 – 4 – 6
e) 2 – 4 – 5 – 6


02. Quem iniciou o Barroco no Brasil e com que obra?
03. A temática de Gregório de Matos, na poesia, era?
04. Algumas características do Barroco.
05. O Barroco surgiu na _________, no século_______.
06. Os principais representantes do Barroco foram_________________
07. O principal representante na arquitetura foi ____________________, conhecido como ___________.
08. O Barroco foi marcado pela oposição, tais como:
09. Quais foram os fatos históricos que influenciaram as obras barrocas?
10. Explique:
a) Cultismo
b) Conceptismo


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