PROF. BERNADETE
QUINHENTISMO
O Quinhentismo foi
um movimento histórico e literário que compreendeu as manifestações culturais
escritas no primeiro século da colonização
brasileira. Em linhas gerais, é possível reconhecer
dois grupos de composição textual na época: os textos de informação e
a literatura de formação. Os principais
escritores da época foram Pero Vaz de Caminha, José de Anchieta e Manuel da
Nóbrega.
Características
A produção literária
dos primeiros anos da colonização brasileira pode ser dividida em dois grupos:
Esse tipo de produção
literária tem como principal característica ter como função descrever o
processo de domínio português sob o território brasileiro. O principal escritor desse
grupo é Pero Vaz de Caminha,
e sua famosa carta é um dos mais importantes
documentos históricos do período.
Para além de ser
um texto histórico, a carta de Caminha é reconhecida
como uma produção literária, haja vista que
estrutura-se a partir de uma narrativa em
primeira pessoa com certa tendência subjetiva na
descrição dos espaços e da sociedade indígena que vivia no Brasil quando
ocorreu a chegada portuguesa.
Veja, a seguir, um
trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha:
Neste dia, a horas de
véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e
redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes
arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o Monte Pascoal e à terra – a
Terra da Vera Cruz.
Mandou lançar o
prumo. Acharam vinte e cinco braças; e ao sol posto, obra de seis léguas da
terra, surgimos âncoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali
permanecemos toda aquela noite. E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e
seguimos em direitos à terra, indo os navios pequenos diante, por dezessete, dezesseis,
quinze, catorze, treze, doze, dez e nove braças, até meia légua da terra, onde
todos lançamos âncoras em frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta
ancoragem às dez horas pouco mais ou menos.
Dali avistamos homens
que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios
pequenos, por chegarem primeiro.
Então lançamos fora
os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do
Capitão-mor, onde falaram entre si.
E o Capitão-mor
mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele
começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos
três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou
vinte homens.
Eram pardos, todos
nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos
com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez
sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
Também conhecida
como literatura
catequética, esse grupo literário é composto por poemas, cartas, sermões e peças de teatro produzidos
pelos padres jesuítas que
desembarcaram no Brasil no início da colonização. De modo breve, é possível
dizer que tais produções tinham como principal função catequizar os nativos do
território.
A catequização pode
ser compreendida como uma espécie de colonização religiosa,
haja vista que os deuses e cultos indígenas foram demonizados pelos
jesuítas, que impuseram o catolicismo na região. Dessa forma, portanto, o
Estado português dominou o território, e a Igreja Católica colonizou a religião
dos nativos.
Anchieta e Nóbrega, sendo esse
primeiro incumbido especificamente de propagar a Literatura de catequese
Contexto
histórico
O contexto histórico
do Quinhentismo é o início da colonização brasileira. As duas
forças políticas que atuaram na dominação do território e dos nativos, o Estado português e
a Igreja Católica, são perceptíveis a partir das
produções literárias do período.
Tanto por meio
das descrições de Pero Vaz de Caminha ou das peças e poemas do
Padre José de Anchieta, é possível perceber traços do momento histórico que
o país passava.
Autores
Os principais autores
do Quinhentismo são:
- Pero Vaz de Caminha;
- Hans Staden;
- Padre José de Anchieta;
- Padre Manuel da Nóbrega.
Obras
As obras mais
relevantes do Quinhentismo são, entre outras, a “Carta” (Pero Vaz de
Caminha), “Duas Viagens ao Brasil” (Hans Staden), poemas, peças de
teatro e "Arte de Gramática da Língua mais Usada na Costa do Brasil"
(Padre José de Anchieta), além de escritos e cartas do Padre Manuel da Nóbrega.
Os escritos do Padre Manuel da Nóbrega foram obra literária produzida no Brasil. Nas cartas, encontra-se
o início da história do povo brasileiro, do ponto de vista de um
catequizador. Contribuição ao estudo dos costumes da sociedade tupinambá,
já em sua primeira carta do Brasil, ao padre Simão Rodrigues, provincial em Portugal, se nota
a postura dos jesuítas a respeito da conversão do gentio e a tentativa de
eliminar alguns hábitos, como o canibalismo:
"Diz
que quer ser cristão e não comer carne humana, nem ter mais de uma mulher e
outras coisas:somente que há de ir à guerra e os que cativar vendê-los e
servir-se deles, porque estes desta terra sempre tem guerra com outros e assim
andam todos em discórdia. Comem-se uns aos outros, digo os contrários. É gente
que nenhum conhecimento tem de Deus, nem ídolos, fazem tudo quanto lhe
dizem".
Esta aparece, por exemplo, a luta entre cristãos e índios: os primeiros consideravam os segundos como um
papel branco onde podiam inscrever as virtudes mais
necessárias.
Ainda que Nóbrega não tenha alto voo lírico, estima-se que seu "Diálogo
sobre a conversão do gentio", primeiro texto em prosa escrito no
Brasil, tenha grande valor literário.
Leia abaixo a cena do segundo ato da peça teatral “Auto de São Lourenço” de
José de Anchieta e preste atenção nas palavras negritadas:
GUAIXARÁ
Esta virtude
estrangeira
Me irrita
sobremaneira.
Quem a teria
trazido,
com seus hábitos
polidos
estragando a terra
inteira?
Só eu
permaneço
nesta aldeia
como chefe
guardião.
Minha lei é a
inspiração
que lhe dou, daqui
vou longe
visitar outro
torrão.
Quem é forte como
eu?
Como eu,
conceituado?
Sou diabo bem
assado.
A fama me precedeu;
Guaixará sou
chamado.
Meu sistema é o bem
viver.
Que não seja
constrangido
o prazer, nem
abolido.
Quero as tabas
acender
com meu fogo
preferido
Boa medida é beber
cauim até vomitar.
Isto é jeito de
gozar
a vida, e se
recomenda
a quem queira
aproveitar.
EXERCÍCIOS
01.A Carta
de Pero Vaz de Caminha é o primeiro relato sobre a terra que
viria a ser chamada de Brasil. Ali, percebe-se não apenas a curiosidade do
europeu pelo nativo, mas também seu pasmo diante da exuberância da natureza da
nova terra, que, hoje em dia, já se encontra degradada em muitos dos locais
avistados por Caminha.
Tendo isso em vista, leia o fragmento a seguir.
Esta terra, Senhor, parece-me
que, da ponta que mais contra o sul vimos, até outra ponta que contra o norte
vem, de que nós deste ponto temos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte
ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, em algumas partes,
grandes barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra por cima é toda
chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda,
muito chã e muito formosa.
Pelo sertão nos pareceu, vista
do mar, muito grande, porque a estender d’olhos não podíamos ver senão terra
com arvoredos, que nos parecia muito longa.
Nela até agora não pudemos
saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem o
vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como
os de Entre-Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de
lá.
As águas são muitas e infindas.
E em tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por
causa das águas que tem.
CASTRO, Sílvio (org.). A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto
Alegre: L&PM, 2003, p. 115-6.
Esse fragmento apresenta-se como um texto
a) descritivo, uma vez
que Caminha ocupa-se em dar um retrato objetivo da terra descoberta, abordando
suas características físicas e potencialidades de exploração.
b) narrativo, pois a “Carta” é, basicamente, uma narração da
viagem de Pedro Álvares Cabral e sua frota até o Brasil, relatando, numa
sucessão de eventos, tudo o que ocorreu desde a chegada dos portugueses até sua
partida.
c) argumentativo, pois Caminha está preocupado em apresentar
elementos que justifiquem a exploração da terra descoberta, os quais se pautam
pela confiabilidade e abrangência de suas observações.
d) lírico, uma vez que a apresentação hiperbólica da terra por
Caminha mostra a subjetividade de seu relato, carregado de emotividade, o que
confere à “Carta” seu caráter especificamente literário.
e) narrativo-argumentativo, pois a apresentação sequencial dos
elementos físicos da terra descoberta serve para dar suporte à ideia defendida
por Caminha de exploração do novo território.
02. Como é a descrição dos primeiros
índios feita por Pero Vaz de Caminha no litoral brasileiro?
Resposta:A primeira menção aos
índios inicia no trecho "E dali avistamos homens que andavam pela praia,
uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram
primeiro." A partir de então, Caminha procede com a descrição dos nativos
e se mostra impressionado com a beleza e com o aspecto diferente dos índios
principalmente no que concerne ao vestuário, ao cabelo, à cor da pele e aos
adereços do corpo. Caminha também se mostra impressionado com o fato de que os
índios não pareciam incomodados ao mostrar suas partes íntimas o que, segundo
Caminha, era um sinal de inocência.
03. Quem foi Pero Vaz de Caminha, autor da Carta
a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil?
Resposta:Escritor, foi nomeado
o escrivão a fazer parte da armada de Pedro Álvares Cabral em 1500 que, na
ocasião, rumava em direção a Calecute, na Índia. Responsável pela Carta a
El-Rei sobre o achamento do Brasil, Caminha faz um relato ao rei sobre a
"Terra de Vera Cruz" posteriormente renomeada
de Brasil.
04. Além da vinda para o Brasil para auxiliar na catequização dos
índios mediante a composição de peças de teatro, qual a outra maior
contribuição com relação à difusão da educação dos índios tupi pelos jesuítas?
Resposta: Uma das maiores contribuições do
Padre Anchieta foi a elaboração da primeira gramática da língua tupi (a mais
falada pelos índios na costa brasileira) para auxiliar os catequizadores na
evangelização.
05. Em seus poemas mais famosos Compaixão da Virgem na Morte
do Filho, Ao Santíssimo Sacramento e A Santa Inês qual
a posição do poeta em face ao divino? A qual gênero literário pertencem os
poemas?
Resposta:Nos três poemas o poeta se coloca em
posição de adoração ao divino, seja para a Nossa Senhora que sofre ao ver seu
filho torturado, seja ao Jesus Cristo transformado em hóstia, seja à formosa
Santa Inês. Os três poemas fazem parte do gênero lírico.