https://www.youtube.com/watch?v=6FeWYrOcvSk
Romantismo no Brasil. Primeira
geração:literatura e nacionalidade
>> Leia atentamente os textos a seguir
e responda às questões de 1 a 3.
Texto
1
Um índio
Um índio descerá de uma estrela colorida
brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade
estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul na
América num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água
límpida
Mais avançado que a mais avançada das
tecnologias
Virá
Impávido que nem Muhamad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranquilo e infalível como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé filhos de Ghandi
Virá
VELOSO, Caetano. Álbum Circulado vivo,
Universal Music Brasil, 1992. (Fragmento).
Texto
2
O Guarani
O rosto do selvagem iluminou-se; seu peito
arquejou de felicidade; seus lábios trêmulos mal podiam articular o turbilhão
de palavras que vinham do íntimo da alma.
— Peri quer ser cristão! disse ele.
D. Antônio lançou-lhe um olhar úmido de
reconhecimento.
— A nossa religião permite, disse o fidalgo,
que na hora extrema todo homem possa
dar o batismo. Nós estamos com o pé sobre o
túmulo. Ajoelha, Peri!
O índio caiu aos pés do velho cavalheiro, que
impôs-lhe as mãos sobre a cabeça.
— Sê cristão! Dou-te o meu nome.
Peri beijou a cruz da espada que o fidalgo
lhe apresentou, e ergueu-se altivo e sobranceiro, pronto a afrontar todos os
perigos para salvar sua senhora.
ALENCAR, José de. O guarani. São Paulo:
Ática, 1995. (Fragmento).
Texto
3
I-Juca Pirama
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
DIAS, Gonçalves. Gonçalves Dias: poesia e
prosas completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
(Fragmento).
1.O índio sempre foi um personagem presente em nossa
literatura, desde o fim do Arcadismo. Até hoje, como o comprova o texto 1, essa
temática continua presente, com algumas alterações. Qual a imagem de índio que
se pode extrair dos textos 2 e 3? Justifique sua resposta.
2. Por que o índio é de fundamental
importância na literatura romântica brasileira em sua primeira fase?
3. O texto de Caetano Veloso apresenta
algumas semelhanças e algumas diferenças na abordagem da temática indianista.
Aponte-as e explique-as.
>> Leia, atentamente, o trecho a
seguir, de autoria de Sérgio Buarque de Holanda, e responda às questões 4 e 5.
Pode-se dizer que foi a maneira natural de
traduzir em termos nossos a temática da
Idade Média, característica do Romantismo
europeu. Ao medievalismo dos franceses e portugueses, opúnhamos o nosso
pré-cabralismo, aliás, não menos preconcebido e falso do que aquele.
HOLANDA, Sérgio Buarque. “Prefácio de 1939”.
In: MAGALHÃES, José Domingos Gonçalves de.
Suspiros poéticos e saudades. 6 ed. Brasília:
Editora da UnB, 1999. (Fragmento).
4. Como deve ser entendida, em termos
históricos e literários, a passagem em que o autor fala de “nosso
pré-cabralismo”?
5. Sérgio Buarque de Holanda conclui suas
observações dando a entender que tanto o medievalismo dos românticos europeus quanto
o pré-cabralismo dos brasileiros não correspondia a um resgate histórico do
passado. Explique por quê.
>> Leia o texto e responda às questões
6 e 7.
Segundos
Cantos
A pátria é onde quer que a vida temos
Sem
penar e sem dor;
Onde rostos amigos nos rodeiam,
Onde
temos amor:
Onde vozes amigas nos consolam
Na
nossa desventura,
Onde alguns olhos chorarão doridos
Na
erma sepultura;
A pátria é onde a vida temos presa:
Aqui
também há sol!
Também a brisa corre fresca e leve
Da
manhã no arrebol!
Aqui também a terra produz flores,
Também
os céus têm cor;
Também murmura o rio, e corre a fonte,
E os
astros têm fulgor!
Aqui também se arrelva o prado, o monte,
De
mimoso tapiz;
Nas asas do silêncio desce a noite
Também
sobre o infeliz!
DIAS, Gonçalves. In: Poesia e prosa
completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. (Fragmento).
Doridos: que têm ou expressam alguma dor.
Arrebol: cor avermelhada do crepúsculo (entre
a noite e o nascer do sol), alvorada.
Tapiz: extensão de terreno coberta de flores,
relva.
Estreme: puro.
6. O texto de Gonçalves Dias é tipicamente
romântico, sobretudo de acordo com o modo como retrata seu país.
a) Como a pátria é descrita no poema?
b) Qual característica do Romantismo essa
descrição revela?
7. Provavelmente o texto mais conhecido de
Gonçalves Dias é a Canção do exílio. Pode-se dizer que este famoso poema do
autor é semelhante ao texto aqui transcrito? Em que momentos os textos se
parecem?
>> Durante o regime militar
(1964-1985), o Brasil viu nascer uma nova onda de “ufanismo” patrocinada pelos
novos governantes do país. Naquele momento, surgiram canções de cunho
extremamente nacionalista que lembravam, e muito, a Canção do exílio de
Gonçalves
Dias. Um bom exemplo disso é a canção a
seguir.
Eu
te amo meu Brasil!
As praias do Brasil ensolaradas
O chão do meu país se elevou
A mão de Deus abençoou
Mulher que nasce aqui tem muito mais amor!
O céu do meu Brasil tem mais estrelas
O sol do meu país mais esplendor
A mão de Deus abençoou
Em terras brasileiras vou plantar amor!
Eu te amo meu Brasil — Eu te amo!
Meu coração é verde, amarelo, branco, azul,
anil!
Eu te amo meu Brasil — Eu te amo!
Ninguém segura a juventude do Brasil!!!
As tardes do Brasil são mais douradas
Mulatas tocam cheias de calor
A mão de Deus abençoou
Eu vou ficar aqui porque existe amor!
No Carnaval os Gringos querem vê-las
Num colossal desfile multicor
A mão de Deus abençoou
Em terras brasileiras vou plantar amor!
Adoro meu Brasil de madrugada
As horas que eu estou com meu amor
A mão de Deus abençoou
A minha amada vai comigo aonde eu for!
As luzes do Brasil têm mais beleza
Aurora chora de tristeza e dor
Porque a Natureza assopra
E ela vai-se embora enquanto eu planto o
Amor!
DOM. Os Incríveis e seus maiores sucessos,
RCA Victor, 1994.
8. Transcreva os trechos da música que se
assemelham a versos presentes na Canção do exílio.
9. Compostas em momentos bastante diversos,
Eu te amo meu Brasil! e a Canção do exílio apresentam diferenças também quanto
à repercussão que tiveram. Após a composição e divulgação da música, seu autor
e seus intérpretes foram acusados de defenderem o regime ditatorial dos
militares. Por que uma canção ufanista poderia ser vista como negativa naquele
momento e não o era na época de Gonçalves
Dias?
RESPOSTAS
1. A imagem de índio presente nos textos 2 e
3 (românticos) corresponde a um ideal europeu: um índio cristão, de altos
valores, semelhante a um cavaleiro medieval, além de ser guerreiro valente e
corajoso. No texto 2, temos como comprovação dessas características: “Peri quer
ser cristão! disse ele.” e “Peri beijou a cruz da espada que o fidalgo lhe
apresentou, e ergueu-se altivo e sobranceiro, pronto a afrontar todos os
perigos para salvar sua senhora.”
No texto 3, temos: “Sou bravo, sou forte,/Sou
filho do Norte;/Meu canto de morte,/Guerreiros, ouvi.”
2. O índio foi o símbolo da nacionalidade
brasileira escolhido pelos primeiros autores românticos. O Romantismo foi o
primeiro movimento literário que aconteceu no Brasil independente, e o índio
sintetiza os anseios de identidade nacional.
3. O índio que aparece na música de Caetano
Veloso também é heroico, como podemos perceber pelas comparações com Peri,
Mohamed Ali, Bruce Lee. No entanto, Caetano apresenta uma visão mais crítica e
“realista” sobre os índios, mencionando o extermínio da “última nação
indígena”, e apresentando esse herói de forma futurista (“descerá de uma
estrela colorida, brilhante”).
4. Como os autores brasileiros não podiam
voltar seus olhos para a Idade Média, pelo simples fato de que nós não tivemos
uma, sua escolha histórica recaiu sobre o período que precedeu a chegada dos
portugueses ao Brasil, daí a referência ao “pré-cabralismo”. Se a intenção
desses autores era a formação de um conceito de nacionalidade livre das
influências sofridas pela ação colonizadora, era preciso voltar no tempo até um
momento em que os portugueses ainda não tivessem aportado no país. Em termos
literários, a temática
pré-cabralista vai girar em torno da
idealização de dois elementos do Brasil: a figura do índio (em uma adaptação
local dos cavaleiros medievais europeus) e a nossa natureza exuberante.
5. A afirmação do autor deve-se ao fato de
que as obras românticas, mesmo as de temática histórica, são profundamente
idealizadas. O medievalismo europeu e o pré-cabralismo brasileiros são
“preconcebidos e falsos” porque as personagens e cenários de época apresentados
nos romances e poemas são uma projeção da imaginação romântica, que as
construía como veículo ideal de seus princípios e valores. A verdade histórica,
nesse sentido, não contribuiria para a criação literária. Ela serve apenas como
ponto de partida para a manifestação dos ideais românticos.
6. A) A Pátria é um lugar em que se recebe o
carinho dos amigos, onde se está confortável e onde abundam as belezas naturais:
onde “a terra produz flores,/Também os céus têm cor;/
Também murmura o rio, e corre a fonte,/E os
astros têm fulgor!”, etc.
B) Esta exaltação à pátria é uma
característica própria do Romantismo: o Nacionalismo.
7. Sim. Quando o eu lírico fala principalmente
das belezas naturais de seu país — das flores e do céu — podemos relembrar os
versos “Nosso céu tem mais estrelas,/Nossas várzeas têm mais flores”, contidos
na Canção do exílio.
8. As belezas naturais e o amor são os dois
temas que se cruzam nestes textos sobre o Brasil.
O verso da canção “O céu do meu Brasil tem
mais estrelas” é bastante semelhante ao que diz Gonçalves Dias no poema (“Nosso
céu tem mais estrelas”). O “amor”, repetido ao longo de toda a canção como
atributo maior das terras brasileiras, também aparece no poemaromântico quando
ele diz “Nossa vida mais amores”.
9. O nacionalismo, a exaltação à pátria era
uma característica do Romantismo, um procedimento literário de uma época em que
se busca definir uma identidade brasileira. Já durante o regime militar,
acreditava-se que, dando relevo às belezas naturais e reforçando os
estereótipos relativos aos brasileiros (as belas mulatas procuradas pelos
“gringos”; a alegria deum povo que tem Deus como seu conterrâneo — Deus é brasileiro)
se estava mascarando a realidade do país. Soa irônica a afirmação que faz a
canção de que “Ninguém segura a juventude do Brasil”, quando, na verdade,
movimentos jovens eram censurados e reprimidos com violência.
QUESTÕES OBJETIVAS:
1. (UEL) O romance é um
gênero literário que veio a se desenvolver no século ….., retratando sobretudo
…..; era muito comum publicar-se em partes, nos jornais, na forma de ….. .
Preenchem corretamente as lacunas do texto
acima, pela ordem:
a) XVII – a alta aristocracia – conto.
b) XVIII – o mundo burguês – folhetim.
c) XVIII – o mundo burguês – crônica.
d) XIX – o mundo burguês – folhetim.
e) XIX – a alta aristocracia – crônica
a) XVII – a alta aristocracia – conto.
b) XVIII – o mundo burguês – folhetim.
c) XVIII – o mundo burguês – crônica.
d) XIX – o mundo burguês – folhetim.
e) XIX – a alta aristocracia – crônica
Gabarito: Letra B
Comentário: O Romance
começou a se desenvolver no continente Europeu no século XVIII e chegou às
terras brasileiras no século XIX. Nas prosas românticas, como a burguesia
estava em ascensão, é possível perceber que os autores buscam descrever o
cenário burguês. Esses textos eram produzidos na forma de folhetins, dividido
em capítulos e também possuíam as características de uma narrativa.
2. (UEL) Assinale a
alternativa cujos termos preenchem corretamente as lacunas do texto inicial.
Foi característica das preocupações ……….. do
poeta ………. tomar como protagonista de seus poemas a figura do …………, afirmando
em seu caráter heroico, em sua bravura, em sua honra – qualidades que a rigor o
identificavam com o mais digno dos cavaleiros medievais.
a) nacionalistas – Gonçalves Dias – índio brasileiro.
b) mistificadoras – Álvares de Azevedo – sertanejo solitário.
c) cosmopolitas – Castro Alves – operário nordestino.
d) ufanistas – Monteiro Lobato – caipira paulista.
e) regionalistas – João Cabral de Melo Neto – trabalhador rural.
Gabarito: Letra A
a) nacionalistas – Gonçalves Dias – índio brasileiro.
b) mistificadoras – Álvares de Azevedo – sertanejo solitário.
c) cosmopolitas – Castro Alves – operário nordestino.
d) ufanistas – Monteiro Lobato – caipira paulista.
e) regionalistas – João Cabral de Melo Neto – trabalhador rural.
Gabarito: Letra A
Comentário: A 1ª Geração
Romântica, também conhecida como Nacionalista ou Indianista foi influenciada
pelo contexto histórico da época, que buscou criar uma identidade brasileira
por meio da figura nativa: o índio. Gonçalves Dias foi um dos principais
autores dessa geração a retratar essa realidade idealizada. Já as outras
alternativas não fazem referência à 1ª Geração Romântica e trazem aspectos
incorretos.
3. (PUC) Assinale a
alternativa que identifica as qualidades do Romantismo presentes no poema “O
poeta”, de Álvares de Azevedo:
“No meu leito adormecida,
Palpitante e abatida,
A amante do meu amor!
Os cabelos recendendo
Nas minhas faces correndo
Como o luar numa flor!”
Palpitante e abatida,
A amante do meu amor!
Os cabelos recendendo
Nas minhas faces correndo
Como o luar numa flor!”
a) É do Romantismo, pela imagem da mulher
amada idealizada.
b) O poema pertence ao Romantismo porque tem rimas emparelhadas.
c) Porque tem metáforas.
d) Porque apresenta um poeta enamorado.
e) Porque trata a natureza de forma humanizada.
b) O poema pertence ao Romantismo porque tem rimas emparelhadas.
c) Porque tem metáforas.
d) Porque apresenta um poeta enamorado.
e) Porque trata a natureza de forma humanizada.
Gabarito: Letra A
Comentário: No poema de
Álvares de Azevedo, percebemos o eu lírico idealizando a imagem feminina. A
linguagem subjetiva e a presença da pontuação exclamativa reforçam e contribuem
para a formação de seu significado. O eu lírico compara a amada com elementos
naturais, que fazem referência não somente à beleza, como também na pureza,
inocência, ao relacioná-la com uma flor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário