terça-feira, 14 de abril de 2020

LITERATURA - ENSINO MÉDIO

PROF. BERNADETE

HUMANISMO

O Humanismo é o nome dado a uma corrente filosófica e artística que surgiu no século XV na Europa.
Na literatura, ele representou o período de transição (escola literária) entre o Trovadorismo e o Classicismo, bem como da Idade Média para a Idade Moderna.
Note que o termo “Humanismo” abriga diversas concepções. No geral, corresponde ao conjunto de valores filosóficos, morais e estéticos que focam no ser humano, daí surge seu nome. Do latim, o termo humanus significa “humano”.
Trata-se de uma ciência que permitiu ao homem compreender melhor o mundo e o próprio ser. Isso ocorreu durante o período do Renascimento Cultural.
Homem Vitruviano (1590) de Leonardo da Vinci: símbolo do antropocentrismo humanista

Características do Humanismo
As principais características do Humanismo são:
  • Racionalidade
  • Antropocentrismo
  • Cientificismo
  • Modelo Clássico
  • Valorização do corpo humano e das emoções
  • Busca da beleza e perfeição
Humanismo em Portugal
O marco inicial do humanismo literário português foi a nomeação de Fernão Lopes para cronista-mor da Torre do Tombo, em 1418.
O movimento com foco na prosa, poesia e teatro, terminou com a chegada do poeta Sá de Miranda da Itália em 1527.
Isso porque ele trouxe inspirações literárias baseadas na nova medida chamada de “dolcestilnuevo” (Doce estilo novo). Esse fato permitiu o início do classicismo como escola literária.

Autores e Obras
O teatro popular, a poesia palaciana e a crônica histórica foram os gêneros mais explorados durante o período do humanismo em Portugal.
Gil Vicente (1465-1536) foi considerado o pai do teatro português, escrevendo “Autos” e “Farsas”, dos quais se destacam:
Fernão Lopes (1390-1460) foi o maior representante da prosa historiográfica humanista, além de fundador da historiografia portuguesa. De suas obras merecem destaque:
  • Crônica de El-Rei D. Pedro I
  • Crônica de El-Rei D. Fernando
  • Crônica de El-Rei D. João I
Com destaque para a poesia palaciana, Garcia de Resende (1470-1536) foi o maior representante com sua obra Cancioneiro Geral (1516).

Produções Literárias
O período humanista possuía produções literárias que mesclavam características medievais e modernas. Entre elas, estavam:
→ Poesia Palaciana: proveniente das cantigas do Trovadorismo, possuía, porém, uma estrutura textual mais elaborada – redondilhas, ambiguidades, aliterações, assonâncias, figuras de linguagem, idealismo, sensualidade, métrica, ritmo e expressividade – e não era mais acompanhada por música, mas feita para ser recitada dentro dos palácios, para a nobreza.
Uma coletânea de poesias chamada Cancioneiro Geral reuniu 2865 autores e foi publicada em 1516. Essa organização foi realizada pelo poeta português Garcia Resende (1482-1536).
Os principais temas presentes nesse tipo de produção eram os costumes da corte, temas religiosos, satíricos, líricos e heroicos.

Exemplo de Poesia Palaciana:
Meu amor tanto vos quero,
que deseja o coração
mil cousas contra a razão.
Porque, se vos não quisesse,
como poderia ter
desejo que me viesse
do que nunca pode ser?
Mas conquanto desespero,
e em mim tanta afeição,
que deseja o coração.
(Aires Teles)

→ Prosa: A prosa humanista era dividida entre as crônicas historiográficas e as crônicas ficcionais (novelas de cavalaria).

Principais Humanistas
Os humanistas eram os estudiosos da cultura antiga que se dedicavam, sobretudo, aos estudos dos textos da antiguidade clássica greco-romana.
PetrarcaDante Alighieri e Boccaccio são certamente os poetas italianos humanistas que merecem destaque.
Todos eles foram influenciados por características do período como o culto às línguas e às literaturas greco-latinas (modelo clássico).

Contexto Histórico
A época renascentista foi um momento de importantes transformações na mentalidade europeia.
Assim, com a invenção da imprensa, as grandes navegações, a crise do sistema feudal e o aparecimento da burguesia, surge uma nova visão do ser humano.
Essa mudança veio questionar os velhos valores num impasse desenvolvido entre a fé a razão.
Nesse momento, o teocentrismo (Deus como centro do mundo) e a estrutura hierárquica medieval (nobreza-clero-povo) sai de cena, dando lugar ao antropocentrismo (homem como centro do mundo). Esse último, foi o ideal central do humanismo renascentista.

Humanismo Renascentista
Humanismo Renascentista (XIV e XVI), nascido em Florença na Itália, foi um movimento intelectual de valorização do homem.
Tem o antropocentrismo como sua principal característica, em detrimento do teocentrismo que vigorou durante a Idade Média.
Surgido na Itália no século XV, o Humanismo rapidamente difundiu-se pela Europa durante o século XVI. Ele se desenvolveu em diversos campos do conhecimento e das artes: literatura, escultura, artes plásticas, etc.

Humanismo é o nome dado ao período literário que assinala a transição do teocentrismo medieval para o antropocentrismo renascentista. O Humanismo em Portugal cunhou dois grandes talentos: Fernão Lopes, iniciador da historiografia portuguesa, e Gil Vicente, iniciador do teatroportuguês.
Auto da Barca do Inferno ou Auto da Moralidade é uma obra de dramaturgia que foi escrita em 1517 pelo escritor humanista português Gil Vicente.
Essa peça é uma das mais emblemáticas do dramaturgo, considerado o “pai do teatro português”.
Foi encenada em 1531 e faz parte da Trilogia das Barcas, ao lado do Auto da Barca do Purgatório e o Auto da Barca da Glória.
Lembre-se que “auto” é um gênero que surgiu na Idade Média. São textos curtos de temática cômica e geralmente formados por um único ato.

Resumo e Análise da Obra
Por meio da presença de dois barqueiros, o Anjo e o Diabo, eles recebem as almas dos passageiros que passam para o outro mundo.
A cena passa-se num porto e portanto, um dos barcos vai em direção ao céu, e outro para o inferno.
A maioria dos personagens vão para a barca do inferno. Durante suas vidas não seguiram o caminho de Deus, foram trapaceiros, avarentos, interesseiros e cometeram diversos pecados.
Por outro lado, quem seguia os preceitos de Deus e viveu de maneira simples vai para a barca de Deus. São eles: Joane, o parvo, e os quatro cavaleiros.
Auto da Barca do Inferno é um grande clássico da literatura portuguesa. Ele possui diversas sátiras envolvendo a moralidade.
Pelo destino das almas de alguns personagens, a obra satiriza o juízo final do catolicismo, além da sociedade portuguesa do século XVI
A alegoria do juízo final é um recurso utilizado pelo dramaturgo através de seus personagens (diabo e anjo).
Além disso, cada personagem possui uma simbologia associada à falsidade, ambição, corrupção, avareza, mentira, hipocrisia, etc.
Personagens e seus Pecados
  • Diabo: capitão da barca do Inferno.
  • Anjo: capitão da barca do Céu.
  • Fidalgo: tirano e representante da nobreza. Teve uma vida voltada para o luxo e vai para o inferno.
  • Onzeneiro: homem ganancioso, agiota e usurário. Por ter sido um grande avarento na vida ele vai para o inferno.
  • Joane, o parvo: personagem inocente que teve uma vida simples. Portanto, ele vai para o céu.
  • Sapateiro: homem trabalhador, mas que roubou e enganou seus clientes. Assim, ele vai para o inferno.
  • Frade: representante da Igreja, que vai para o inferno. Isso porque ele tinha uma amante, Florença, e não seguiu os princípios do catolicismo.
  • Brígida Vaz: alcoviteira condenada por bruxaria e prostituição que vai para o inferno.
  • Judeu: personagem que foi recusado pelo Diabo e pelo Anjo por não ser adepto ao Cristianismo. Por fim, ele vai para o inferno.
  • Corregedor e Procurador: representantes da lei. Ambos vão para o inferno, pois foram acusados de serem manipuladores e utilizarem das leis e da justiça para o bem e interesses pessoais.
  • Cavaleiros: grupo de quatro homens que lutaram para disseminar o cristianismo em vida e portanto, são absolvidos dos pecados que cometeram e vão para o céu.
Trecho da obra
Para compreender melhor a linguagem utilizada pelo escritor, confira abaixo um trecho da obra:
Trecho 1
DIABO À barca, à barca, houlá!
que temos gentil maré!
- Ora venha o carro a ré!
COMPANHEIRO Feito, feito!
Bem está!
Vai tu muitieramá,
e atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
pera a gente que virá
.”

Atividades:

01. Além dos temas cristãos, herdados da Idade Média, o humanismo incorporou decisivamente outros elementos, que foram:
a) os elementos da cultura persa.
b) os elementos da cultura clássica, grega e romana.
c) os fundamentos teológicos dos heréticos, como os de Marcião.
d) as estruturas do pensamento de Confúcio.
e) as estruturas do pensamento de Buda.

02. Todos os autores abaixo escreveram obras em versos, mas somente um as escreveu em um gênero literário diferente dos demais. Qual?
a) Dom Dinis.
b) Paio Soares de Taveirós.
c) Gil Vicente.
d) Francisco Sá de Miranda.
e) Fernão Lopes.

03. Caracteriza o teatro de Gil Vicente:
a) A revolta contra o cristianismo.
b) A obra escrita em prosa.
c) A elaboração requintada dos quadros e cenários apresentados.
d) A preocupação com o homem e com a religião.
e) A busca de conceitos universais.

04. A obra de Fernão Lopes tem um caráter:
a) Puramente científico, pelo tratamento documental da matéria histórica;
b) Essencialmente estético pelo predomínio do elemento ficcional;
c) Basicamente histórico, pela fidelidade à documentação e pela objetividade da linguagem científica;
d) Histórico-literário, aproximando-se do moderno romance histórico, pela fusão do real com o imaginário.
e) Histórico-literário, pela seriedade da pesquisa histórica, pelas qualidades do estilo e pelo tratamento literário, que reveste a narrativa histórica de um tom épico e compõe cenas de grande realismo plástico, além do domínio da técnica dramática de composição.



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